quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Todo corpo tem mais que um desejo

Hoje, caminhando de volta para casa depois do trabalho, encontrei o Marcelo que me chamou para falar sobre um texto que eu escrevi há três anos, sendo originalmente publicado no OVERMUNDO. Motivado pela lembrança, aproveito para trazer esse texto aqui para o blog... É o que segue...

Tela de Frida Kahlo, artista mexicana e bissexual.


“Pois quando eu te vejo
Eu desejo o teu desejo”
(Caetano Veloso, Menino do Rio)

Acontece de Marisa Monte estar a perguntar se alguém é capaz de resistir a uma tentação. O fato ocorre e continua a se repetir toda vez que se ouve a música “A primeira pedra”. Adiantando as inúmeras respostas “sim” - esperadas de todos aqueles que se reprimem -, a artista dá o seu recado libertador: Deixe a sua natureza se manifestar.

Fiquei, então, pensando em qual seria a natureza dos meus e dos teus desejos. Claro que alguém já deve ter abordado isso. Ao buscar a resposta, me informei sobre a Teoria da Sexualidade de Sigmund Freud e escrevo aqui os meus achados.

Para o célebre psicanalista é fato: todo mundo é bissexual. Ou, no mínimo, o somos em potencialidade. Para ele, homens e mulheres não diferem tanto assim. Em termos psicológicos, anatômicos e fisiológicos guardamos inúmeras semelhanças e poucas são as diferenças. Ou seja, de acordo com as idéias freudianas, a orientação sexual seria especialmente condicionada por fatores psicossociais e não meramente por características naturais.

O que chama a atenção nessa teoria é a coragem de seu autor. Coragem de ousar afirmar isso em uma época na qual os órgãos genitais determinavam tudo: as pessoas, os papéis sociais, os destinos, as vidas. Muito corajoso mesmo, esse tal de Freud, pois afirmar isso ainda hoje é polêmico. Prova disso é o rebuliço criado pelas idéias do cientista italiano, Umberto Veronesi. Segundo seus estudos, lançados em agosto do ano passado durante uma conferência na região da Toscana, a humanidade caminha para a bissexualidade.

De acordo com tais pesquisas, ao longo do século XX os novos hábitos de vida promoveram uma espécie de diluição do perfil de cada gênero. Homens e mulheres passaram a atuar de maneira cada vez mais parecida. Atualmente compartilham funções que antes eram tidas como apropriadas apenas a um dos sexos. O autor argumenta ainda que os homens não precisam mais de agressividade, pois não têm mais um clã ameaçado para defender. Enquanto que as mulheres com a conquista do mercado de trabalho tiveram que desenvolver novas posturas sociais, tais como, empreendedorismo, liderança e força - características até pouco tempo atribuídas aos homens.

Por fim, o atual fortalecimento da compreensão de que o ato sexual é, antes de ser um ato reprodutivo, uma experiência de afeto, leva Umberto Veronesi a vislumbrar uma sociedade baseada em relacionamentos não mais orientados pelo gênero, e sim pela simples condição de nossos amores serem humanos.

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