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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Em 5 minutos, o Apocalipse

Em um sinal de pessimismo sobre o futuro da humanidade, cientistas acertaram semana passada os ponteiros do infame "Relógio do Juízo Final", adiantando-o em um minuto em relação a dois anos atrás.

"Faltam, agora, cinco minutos para meia-noite", anunciou em 10 de janeiro Kennette Benedict, diretor do Bulletin of the Atomic Scientists (BAS), em conferência de imprensa em Washington, DC.

Isso representa um passo simbólico para mais perto do fim do mundo, uma mudança em relação à leitura anterior, que indicava seis minutos para meia-noite, estabelecida em janeiro de 2010. 

O relógio é um símbolo da iminente ameaça de destruição da humanidade por armas nucleares ou biológicas, por alterações climáticas e por outros desastres de causa humana. Ao deliberar sobre como atualizar a hora no relógio, o Bulletin of the Atomic Scientists concentrou-se no estado atual dos arsenais nucleares em todo o mundo, em eventos desastrosos, como o derretimento da usina nuclear em Fukushima e em questões de biossegurança, como a criação de uma cepa de H5N1 capaz de se disseminar através do ar.

O Relógio do Juízo Final foi criado em 1947, como uma maneira de cientistas atômicos advertirem o mundo sobre os perigos das armas nucleares. Naquele ano, o Bulletin definiu o horário “sete minutos para meia-noite”, onde meia-noite simboliza a destruição da humanidade. Em 1949, o relógio indicava três minutos para meia-noite devido à deterioração da relação entre os Estados Unidos e a União Soviética. Em 1953, após o primeiro teste com a bomba de hidrogênio, o relógio do juízo final avançou para dois minutos para meia-noite.

O Bulletin estava em seu momento mais otimista em 1991, com o degelo da Guerra Fria e quando os Estados Unidos e a Rússia começaram a reduzir seus arsenais. Naquele ano, o relógio marcava 17 minutos para meia-noite.

A partir de então, e até 2010, porém, ocorreu um retorno gradual rumo à destruição, quando as esperanças de desarmamento nuclear total desapareceram e as ameaças de terrorismo nuclear e as mudanças climáticas ergueram suas cabeças. Em 2010, o Bulletin viu alguma esperança em tratados de redução de armamentos e em negociações climáticas internacionais e, atrasou o ponteiro dos minutos do Relógio do Apocalipse para seis minutos para meia-noite, de seu horário anterior, cinco para a meia-noite.

Com a decisão atual, o Bulletin repudiou esse otimismo. No processo de tomada da decisão, a comissão leva em conta um elenco de tendências de longo prazo e eventos imediatos, disse Benedict. As tendências consideradas podem incluir fatores como aperfeiçoamento de tecnologias baseadas em energia solar para melhor combater as mudanças climáticas, disse ela, ao passo que acontecimentos políticos, como a recente reunião das Nações Unidas sobre o clima realizada em Durban também desempenharam um papel. Neste ano, o desastre nuclear de Fukushima causou uma grande impressão.

"Estamos tentando avaliar se foi um sinal de alerta, se o acidente fará as pessoas examinarem mais detidamente essa nova e extremamente poderosa tecnologia, ou se as pessoas vão seguir como se nada de anormal tivesse ocorrido", disse Benedict à LiveScience.

Entre outros fatores que influenciaram a decisão estão o crescente interesse pela energia nuclear por parte de países como a Turquia, Indonésia e os Emirados Árabes Unidos, disse Benedict.

O Bulletin concluiu que apesar das esperanças de acordos em âmbito mundial sobre armas nucleares, energia elétrica de origem nuclear e mudanças climáticas, pouco progresso foi alcançado em 2010.

"O mundo ainda tem aproximadamente mais de 20 mil armas nucleares prontas a serem acionadas e com poder suficiente para destruir 'muitas vezes' os habitantes do mundo", disse Lawrence Krauss, professor da Arizona State University e co-presidente do Conselho de Patrocinadores do BAS. "Temos também a perspectiva de armas nucleares serem usadas por terroristas não estatais".

Da mesma forma, conversações sobre mudanças climáticas resultaram em pouco progresso, a comissão concluiu. Na realidade, parece que fatores políticos prevaleceram sobre considerações científicas nas discussões dos últimos dois anos, disse Robert Socolow, um professor de engenharia mecânica e aeroespacial em Princeton e membro da diretoria de Ciência e Segurança do Bulletin.

"Precisamos de liderança política para afirmar a primazia da ciência como forma de conhecimento, ou os problemas ficarão bem mais graves do que já estão", disse Socolow.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Marx estava certo (e errado) por Sérgio Malbergier

Crises podem ser supervalorizadas, ainda mais numa era de noticiário histérico e ubíquo e de mercados histéricos e ubíquos.

Há em curso uma história econômica maior (e melhor) do que a implosão da bolha de consumo e bem-estar dos países ricos, que é a emancipação econômica de bilhões de cidadãos do chamado mundo emergente.

Quanto mais o segundo ato da crise econômica global se desenvolve, mais claro fica que ela é uma crise econômica do Hemisfério Norte. Os países do Sul já saíram da crise há muito tempo. O processo de inclusão socioeconômica das massas desses países se mostrou resistente ao empobrecimento dos ricos.

Nos EUA e na Europa Ocidental, o estouro da grande bolha de prosperidade (via crédito, nos EUA; via benefícios socioeconômicos, na Europa), ainda causará muita agonia. Suas empresas, instituições e cidadãos se sentem inseguros e pessimistas quanto ao futuro, o que é mortal para os negócios, mesmo que se tenha o melhor ambiente de negócios do mundo.

Nos EUA, pátria do consumo, as vendas de carros neste ano devem ser quase 30% menores do que em 2001. O mercado imobiliário do país voltou a afundar, e nunca tantos americanos dependeram da ajuda do governo para comprar alimentos.

Corta para o Brasil, que tem um ambiente de negócios muito pior que o dos EUA, mas onde a confiança é a maior da história, as vendas de carros batem recordes, o mercado imobiliário atinge picos nunca vistos e a procura por programas como o Bolsa-família cai com o aumento do emprego e da renda.

São dinâmicas completamente diferentes. De um lado, EUA, Europa e Japão atordoados pelo estouro da bolha de prosperidade. Do outro, Brasil, China, Índia, Indonésia, Turquia, Angola, Colômbia, Peru, etc., países que depois de anos de liberalização e avanços macroeconômicos vivem processos sólidos de desenvolvimento.

É um tremendo rearranjo geoeconômico que terá conseqüências geopolíticas e culturais muito maiores do que conseguimos vislumbrar hoje.

Na edição 2011 das Maiores Ideias do Ano da prestigiosa revista americana "The Atlantic", a primeira da lista é a emergência da classe média dos emergentes.

Gillian Tett, a editora do "Financial Times" que tratou do tema, escreveu esperançosa que países como Brasil, China e Índia, que antes contribuíam com "choque de oferta" na economia mundial, ao produzir produtos mais baratos, agora, com suas massas consumidoras, podem fornecer um "choque de demanda" capaz de reativar as economias do Norte.

Diz muito de nossos tempos que consumidores como o brasileiro, o indiano ou o chinês possam ser vistos como a salvação das economias de Europa e EUA.

O otimismo aqui no Sul, estampado em quase todos os rostos brasileiros, é o oposto do pessimismo do Norte, cujo porta-voz melhor talvez seja o economista Nouriel Roubini, apelidado de Mister Apocalipse e que previu com antecedência de anos o estouro da bolha de crédito imobiliário e suas consequências.

Roubini anda tão pessimista que disse ao wsj.com que Karl Marx pode ao final estar certo sobre o capitalismo. Como?

Para Roubini, o brutal processo de desalavancagem, que reduz gastos públicos e privados, cria governos zumbis, consumidores zumbis, lares zumbis. Nos últimos anos, disse ele, houve enorme redistribuição de riqueza do trabalho para o capital, dos salários para os lucros. E como as empresas gastam proporcionalmente menos do que os lares, essa concentração reduz a demanda e ameaça a economia.

"Marx estava certo. Em algum ponto, o capitalismo pode se autodestruir. Não se pode continuar transferindo renda do trabalho para o capital sem gerar excesso de capacidade e falta de demanda agregada. Foi isso o que aconteceu. Pensávamos que os mercados funcionavam bem. Eles não estão funcionando. A empresa, para sobreviver e prosperar, pode reprimir gastos trabalhistas cada vez mais, mas os gastos trabalhistas são a renda e o consumo das pessoas. Por isso é um processo autodestrutivo", explicou (provocou) o professor Roubini.

Marx pode estar certo em algumas coisas e errado em outras. Mas é preciso notar que, se é a crise do capitalismo que traz estagnação ao Hemisfério Norte, é o sucesso do capitalismo que traz prosperidade para o Sul.

Originalmente publicado aqui.