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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A ética do cuidado no limiar da (in)sustentabilidade



Todos os dias, nos nossos dias de pós-modernidade, a grande maioria das pessoas é assaltada por classificados nos meios de comunicação que anunciam o rompimento de uma nova fronteira do consumo. São MP3s que evoluíram para o 4, 5 ou 6, um modelo de carro possante, uma roupa para a festa e a câmera digital para registrá-la, enfim, sempre à venda um desejo, engendrado, de tal maneira, em espiral que alimenta o consumo exagerado.

No limiar da insustentabilidade de certos gestos, a filosofia de Leonardo Boff aponta-nos para a ética do cuidado. Consigo. Com o outro. Com todas as formas viventes. Com o mundo. A fim de que “possamos nos amparar e elaborar uma atitude cuidadosa, protetora e amorosa para com a realidade”, afirma Boff. E, sem dúvida, esta atitude perpassa pelo consumo responsável dos bens disponíveis neste planeta, pois a construção de sociedades sustentáveis está intrinsecamente ligada à “boa medida” de nossos atos.

A experiência acumulada ao longo do movimento ambientalista nos ensina que a “boa medida”, indicativo de um consumo responsável ou não, está relacionada ao fato de ser respeitado, aqui e agora, o tempo necessário para que os processos naturais reponham o recurso consumido. É a chamada dupla responsabilidade – sincrônica e diacrônica – para com a atual geração e, também, para com a vindoura.

A humanidade estaria, nesses termos, pronta para assumir tamanha responsabilidade? Ou melhor, ela vem sendo adequadamente apresentada a essa nova atitude? Com base na gravidade da situação ambiental em todo o mundo, somos levados a acreditar que não, sendo indiscutível a necessidade de implementação de uma outra forma de educar as gerações, a qual chamamos de Educação Ambiental.

Nesse sentido, entendemos e desejamos a Educação Ambiental como um ato crítico, reflexivo, e nitidamente, cuidadoso, pois queremos ousar assumir um dos lados da questão ambiental, a saber: o dos que desejam construir com amorosidade, sociedades sustentáveis. Tal construção por basear-se em valores como a solidariedade, a justiça ambiental, o respeito às diversidades, a crítica ao consumismo, entre outros valores anti-hegemônicos, pretende forjar a participação cidadã no presente com o olhar no futuro.

Por fim, reivindicamos a democratização do poder da palavra. Que nossos discursos pelo cuidado com a Natureza possam ser entendidos como um ato político que visualiza na utopia do sonho, a concreta certeza da mudança social. Aos educadores ambientais, o somos todos nós, é dada diariamente a leveza do crepúsculo e quem estiver atento, pela ocasião do apagar das luzes, acenderá novas chamas em seu caminhar.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O estético e o ético interpelados pela poesia



“Mas como explicar então que o diário tenha tomado uma feição de tal modo poética? A resposta não apresenta dificuldades, resultando de possuir ele, na sua pessoa, uma natureza poética que não era, se o quiserem, nem suficientemente rica nem suficientemente pobre para distinguir entre a poesia e a realidade. O tom poético era o excedente fornecido por ele próprio. Esse excedente era a poesia cujo gozo ele ia colher na situação poética da realidade, e que retomava sob a forma de reflexão poética. Era este o seu segundo prazer e o prazer constituía a finalidade de toda a sua vida. Primeiro gozava pessoalmente a estética, após o que gozava esteticamente a sua personalidade. Gozava pois egoisticamente, ele próprio, o que a realidade lhe oferecia, bem como aquilo com que fecundava essa realidade; no segundo caso, a sua personalidade deixava de agir, e gozava a situação, e ela própria na situação. Tinha a constante necessidade, no primeiro caso, da realidade como ocasião, como elemento; no segundo caso a realidade ficava imersa na poesia. O resultado da primeira fase era pois o estado de espírito, de onde surgiu o diário como resultado da segunda fase, tendo esta palavra um sentido algum tanto diferente nos dois casos. Graças à ambiguidade em que decorria a sua vida, sempre ele esteve sob o império de uma influência poética.”

KIERKEGAARD, Søren Aabye. Diário de um sedutor. Tradução de Carlos Grifo, Maria José Marinho, Adolfo Casais Monteiro. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 28-29.