sábado, 31 de dezembro de 2011

Um ano novo exige um bom caminho


MANUAL DE CONSERVAR CAMINHOS

Por Paulo Coelho

1] O caminho começa em uma encruzilhada. Ali você pode parar e pensar em que direção seguir. Mas não fique muito tempo pensando, ou jamais sairá do lugar. Faça a clássica de Castaneda: qual destes caminhos tem um coração? Reflita bastante sobre as escolhas que estão adiante, mas uma vez dado o primeiro passo, esqueça definitivamente a encruzilhada, ou sempre ficará sendo torturado pela inútil pergunta: “será que escolhi o caminho certo?” Se você escutou seu coração antes de fazer o primeiro movimento, você escolheu o caminho certo.

2] O caminho não dura para sempre. É uma benção percorrê-lo durante algum tempo, mas um dia ele irá terminar, portanto esteja sempre pronto para despedir-se a qualquer momento. Por mais que você fique deslumbrado por certas paisagens, ou assustado com algumas partes onde é necessário muito esforço para seguir adiante, não se apegue a nada. Nem às horas de euforia, nem aos intermináveis dias onde tudo parece difícil, e o progresso é lento. Cedo ou tarde um anjo virá, e sua jornada chega ao final, não esqueça.

3] Honre seu caminho. Foi sua escolha, sua decisão, e na medida que você respeita o chão onde pisa, também este chão passa a respeitar seus pés. Faça sempre o que for melhor para conservar e manter seu caminho, e ele fará o mesmo por você.

4] Esteja bem equipado. Leve um ancinho, uma pá, um canivete. Entenda que para as folhas secas os canivetes são inúteis, e para as ervas muito enraizadas os ancinhos são inúteis. Saiba sempre que ferramenta utilizar a cada momento. E cuide delas, porque são suas maiores aliadas.

5] O caminho vai para frente e para trás. Às vezes é preciso voltar porque foi perdido algo, ou uma mensagem que devia ser entregue foi esquecida no seu bolso. Um caminho bem cuidado permite que você volte atrás sem grandes problemas.

6] Cuide do caminho, antes de cuidar do que está a sua volta: atenção e concentração são fundamentais. Não se deixe distrair pelas folhas secas que estão nas margens, ou pela maneira como os outros estão cuidando dos seus caminhos. Use sua energia para cuidar e conservar o chão que acolhe seus passos.

7] Tenha paciência. Às vezes é preciso repetir as mesmas tarefas, como arrancar ervas daninhas ou fechar buracos que surgiram depois de uma chuva inesperada. Não se aborreça com isso, faz parte da viagem. Mesmo cansado, mesmo com certas tarefas repetitivas, tenha paciência.

8] Os caminhos se cruzam: as pessoas podem dizer como está o tempo. Escute os conselhos, tome suas próprias decisões. Só você é responsável pelo caminho que lhe foi confiado.

9] A natureza segue suas próprias regras: desta maneira, você tem que estar preparado para súbitas mudanças do outono, o gelo escorregadio no inverno, as tentações das flores na primavera, a sede e as chuvas de verão. Em cada uma destas estações, aproveite o que há de melhor, e não reclame das suas características.

10] Faça do seu caminho um espelho de si mesmo: não se deixe de maneira nenhuma influenciar pela maneira como os outros cuidam de seus caminhos. Você tem sua alma para escutar, e os pássaros para contar o que sua alma está dizendo. Que suas histórias sejam belas e agradem tudo que está a sua volta. Sobretudo, que as histórias que sua alma conta durante a jornada sejam refletidas em cada segundo de percurso.

11] Ame seu caminho: sem isso, nada faz sentido. E que Deus guie seus passos cada dia de 2012!

COELHO, P. Manual de conservar caminhos. Disponível em: http://paulocoelhoblog.com/2011/12/31/edicao-n%C2%BA-144-manual-de-conservar-caminhos/ . Acesso em: 31 de dezembro de 2011.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O efeito flor

O que fiz ao escrever
Foi enxergar o veneno
Vermelho das flores de vidro.

Ousei, assim, engendrar
Em mim, veneno vítreo
E vislumbrar o efeito flor.

De lá para cá,
Nunca mais o mesmo fui
Enredado em tal loucura,
Sopro beleza em meio à feiúra.

* Poesia classificada no concurso literário @LetrasnoPalco da Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Uma viagem é um mar de sim e de não


Lago Titicaca.

Dia desses recebi um tweet do @jmarcelofotos convidando a mim e a outras pessoas a escrever e lhe enviar um texto sobre os nossos melhores momentos em 2011. Nesse sentido, a princípio fiquei um pouco bloqueado em relação ao convite, porque, confesso, achei que compartilhar conquistas, sonhos realizados, felicidades pessoais, assim, na internet, poderia ser mal entendido ou até mesmo repudiado por certas audiências.

De fato, não há nada mais agudo e ofensivo para algumas pessoas que a alegria alheia e foi pensando nessas pessoas que controlei meu impulso inicial de escrever sobre a minha viagem ao Peru e enviar para o @jmarcelofotos. Mas depois de alguma reflexão, entendi que o convite ia além disso e que certas reações sempre ocorrerão. Enfim, superado o bloqueio inicial, gostaria de contar sobre como foi divertido e surpreendente viajar sozinho para fora do país, conhecendo gente diferente, lugares exuberantes e comidas exóticas, de maneira que a minha história possa servir de inspiração para outras pessoas que pretendem concretizar uma aventura semelhante.

Grupo da expedição a Machu Picchu.
Como disse, meu destino de férias foi o Peru, especificamente a cidade de Cuzco e seus arredores, onde encontramos, por exemplo, Machu Picchu, principal destino turístico do país. No lugar, temos contato direto com a história do povo Inca e podemos sentir na pele como é viver na altitude de mais de 2.500 metros. A cidade de Cuzco é um centro cosmopolita. Lá se reúne gente de todos os cantos do mundo que chegam à capital do antigo Império Inca para tentar decifrar o enigma que o povo peruano representa aos olhos estrangeiros. Nessa viagem, conheci gente de vários lugares, especialmente de Israel, mas também do Canadá, da França e da Alemanha. Fato que comprova o espírito cosmopolita da cidade.

Visão postal de Machu Picchu.
Dentre os lugares que conheci, destaco dois, quais sejam: Machu Picchu, naturalmente, e o Lago Titicaca. Para chegar até Machu Picchu escolhi o caminho das pedras, pois literalmente caminhei por quatro dias até chegar à cidade sagrada. Já para chegar até o Lago Titicaca a viagem foi de um dia, contudo, muito mais cômodo, pois trata-se de um roteiro turístico em que vamos conhecendo cidades da região sul do Peru, desde Cuzco até Puno, que fica às margens do lago. A viagem ao Peru foi muito significante para mim não somente porque foi a minha primeira viagem internacional, mas também porque fiz isso sozinho em um gesto que posso dizer de total independência. Cada um de nós tem os seus caminhos e os meus precisavam de algo assim esse ano. Por isso, marco essa viagem como o melhor momento para mim em 2011.

Visão panorâmica de Cuzco.
Para finalizar, gostaria de deixar algumas dicas para quem pretende se aventurar em uma viagem assim. Em primeiro lugar, a gente tem que se planejar, pois comprar passagens aéreas com antecedência pode significar um bom desconto, em meu caso foi algo em torno de 50%. Outra dica é viajar fora da temporada de férias, eu viajei em abril, pois os destinos estão menos saturados de gente e os preços se encontram mais acessíveis. É isso aí, desejo a todos um excelente 2012, cheio de sonhos realizados e, consequentemente, muitas alegrias sinceras. Ah, e que o mundo não acabe, pois as coisas parecem que vão ficar boas justamente agora, vocês não acham?

Carlos Correia é biólogo, trabalha no INSS em União dos Palmares, está no Twitter como @ca_correia e eventualmente escreve no blog Lapsos criativos.