sábado, 20 de agosto de 2011

Entre palavras, o silêncio

Em A vida secreta das palavras, Isabel Coixet nos ajuda a entender o silêncio como busca de paz interior.

Direção: Isabel Coixet / Atores: Sarah Polley, Tim Robbins, Javier Cámara, Eddie Marsan / Lançamento: 2005 (Espanha) / Duração: 115 min / Gênero: Drama.

Como podemos viver com o nosso passado? Esta é uma pergunta difícil e que raramente temos coragem de nos fazer. Certamente ela dilacera a qualquer um, pois atrás de cada um de nós resta silenciado algum acontecimento marcante, alguma ferida ardente que necessita de mãos tênues e compreensivas para sarar.

A vida secreta das palavras é o silêncio, cimento que alicerça o dito, entrelinha que revela numa explosão de sentimentos a verdade que mesmo exposta não pode ser vista. Por que tamanho segredo? Por que desligar-se do mundo com um toque, liga-desliga, ouve-não ouve, é defesa, Hannah? Seria por causa das marcas impressas em teu corpo no passado violentado por soldados de seu próprio país?

O que sei é que a tua solidão auto-imposta não passa de busca alucinada por paz interior. É o desejo desconcertante de provar o mundo, seus sabores e sua gente... Sim, Hannah, é desejo puro de amar e ser aceita apesar de. Eu te entendo como entendo a mim mesmo.

Sabe, fiquei feliz ao ver você ir além do arroz branco, frango assado e maçã. Foi curioso e ao mesmo tempo constrangedor ver tua fome do mundo ser temporariamente saciada por um prato de nhoque acompanhado de sorvete de queijo, aliás, o favorito do seu amado. Amado? Verdade, a essa altura nem mesmo você sabia que estava apaixonada por um menino de três vezes quinze anos.... Nesse reino encantado flutuando em mar aberto, resistindo a 25 milhões de ondas, você já era a rainha dele, heroína simples, de nome Cora.

Amor em carne resplandecente e crua. Amor no cuidado, no toque mútuo em feridas abertas. Deixe a tempestade rolar, contemple o mar e não esqueça de vigiar os mexilhões, fale a verdade, seja sincera e diga a quem você admira:

- Eu não acreditava que ainda existiam pessoas como você.

Na sua alegria em reconhecer no outro a ousadia do sonho, você é especial, Hannah, e, mesmo nunca tendo sido muito alegre, ainda há de sorrir outras vezes. Acredite, por mais secretas que sejam as palavras, a vida que há nelas vai nos fazer felizes.

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