Todos os dias, nos nossos dias de pós-modernidade, a grande maioria das pessoas é assaltada por classificados nos meios de comunicação que anunciam o rompimento de uma nova fronteira do consumo. São MP3s que evoluíram para o 4, 5 ou 6, um modelo de carro possante, uma roupa para a festa e a câmera digital para registrá-la, enfim, sempre à venda um desejo, engendrado, de tal maneira, em espiral que alimenta o consumo exagerado.
No limiar da insustentabilidade de certos gestos, a filosofia de Leonardo Boff aponta-nos para a ética do cuidado. Consigo. Com o outro. Com todas as formas viventes. Com o mundo. A fim de que “possamos nos amparar e elaborar uma atitude cuidadosa, protetora e amorosa para com a realidade”, afirma Boff. E, sem dúvida, esta atitude perpassa pelo consumo responsável dos bens disponíveis neste planeta, pois a construção de sociedades sustentáveis está intrinsecamente ligada à “boa medida” de nossos atos.
A experiência acumulada ao longo do movimento ambientalista nos ensina que a “boa medida”, indicativo de um consumo responsável ou não, está relacionada ao fato de ser respeitado, aqui e agora, o tempo necessário para que os processos naturais reponham o recurso consumido. É a chamada dupla responsabilidade – sincrônica e diacrônica – para com a atual geração e, também, para com a vindoura.
A humanidade estaria, nesses termos, pronta para assumir tamanha responsabilidade? Ou melhor, ela vem sendo adequadamente apresentada a essa nova atitude? Com base na gravidade da situação ambiental em todo o mundo, somos levados a acreditar que não, sendo indiscutível a necessidade de implementação de uma outra forma de educar as gerações, a qual chamamos de Educação Ambiental.
Nesse sentido, entendemos e desejamos a Educação Ambiental como um ato crítico, reflexivo, e nitidamente, cuidadoso, pois queremos ousar assumir um dos lados da questão ambiental, a saber: o dos que desejam construir com amorosidade, sociedades sustentáveis. Tal construção por basear-se em valores como a solidariedade, a justiça ambiental, o respeito às diversidades, a crítica ao consumismo, entre outros valores anti-hegemônicos, pretende forjar a participação cidadã no presente com o olhar no futuro.
Por fim, reivindicamos a democratização do poder da palavra. Que nossos discursos pelo cuidado com a Natureza possam ser entendidos como um ato político que visualiza na utopia do sonho, a concreta certeza da mudança social. Aos educadores ambientais, o somos todos nós, é dada diariamente a leveza do crepúsculo e quem estiver atento, pela ocasião do apagar das luzes, acenderá novas chamas em seu caminhar.